Desvendando o DS_Store e Outras Peculiaridades dos Sistemas de Arquivos da Apple

O misterioso arquivo .DS_Store, encontrado em praticamente todos os dispositivos Mac, pode causar muitos suspiros e frustrações para aqueles que não entendem seu propósito. Os usuários de macOS não estão cientes desses arquivos normalmente porque o Finder os oculta por padrão. No entanto, para desenvolvedores de software ou usuários que frequentemente entregam arquivos entre diferentes sistemas operacionais, esses pequenos arquivos se tornam intrigantes e, por vezes, irritantes. Mas o que realmente são esses arquivos .DS_Store? E como chegamos até aqui? Para responder a isso, precisamos entender um pouco sobre a evolução dos sistemas de arquivos da Apple.

Historicamente, a Apple demonstrou um forte compromisso com a estrutura de seus sistemas de arquivos, introduzindo conceitos como o ‘resource fork’ e ‘data fork’ no clássico Mac OS. Esse conceito de ‘fork’ referia-se a duas partes de um arquivo: uma para o recurso (metadados) e outra para os dados. Isso permitia que os aplicativos armazenassem não apenas o conteúdo dos arquivos, mas também informações contextuais sobre o conteúdo, como ícones e tipos de arquivos. Com o advento do macOS e a transição para a base Unix, essa abordagem foi incorporada de maneiras novas e inovadoras, mas não sem problemas.

Um comentário feito por um leitor mencionou que implementar o suporte a arquivos compatíveis com Mac em Unix representava um grande desafio. Este desafio foi abordado associando arquivos de recursos como ‘resource forks’ a arquivos de dados, resultando nos arquivos .DS_Store que conhecemos hoje. A complexidade aumenta ainda mais quando consideramos outras medidas adotadas pela Apple para gerenciar seus arquivos de sistema. Por exemplo, os sistemas de arquivos modernos como APFS ainda mantêm alguma das antigas convenções, incluindo o uso de forks para armazenar ícones personalizados. Contudo, mesmo com as melhorias, os arquivos .DS_Store podem se tornar um aborrecimento em ambientes de desenvolvimento colaborativo, especialmente com controladores de versão como o Git, onde é comum adicionar .DS_Store ao .gitignore.

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Comparando com as soluções empregadas em outros sistemas operacionais, a agonística entre Unix e NTFS apresenta um quadro interessante. Os ‘alternate data streams’ (ADS) do NTFS são um conceito análogo aos resource forks, introduzidos para manter compatibilidade com os recursos do Mac OS em volumes de rede. Um detalhe interessante é que enquanto os Macs produzem esses arquivos aparentemente desnecessários, o Windows utiliza o desktop.ini e o Thumbs.db para armazenar dados de configuração, demonstrando que esse desdobramento de metadados não é exclusivo da Apple. No entanto, como mencionado em alguns comentários, os ADS raramente são usados, exceto por malwares que se aproveitam dessa peculiaridade para ocultar arquivos maliciosos.

A interoperabilidade entre sistemas diferentes frequentemente revela esses pequenos detalhes. Comentadores lembraram o drama que envolve a cópia de arquivos entre HFS+ do Mac e NTFS do Windows, onde metadados se transformam em streams alternativos. Ferramentas como ‘dot_clean’ foram desenvolvidas para ajudar nesse processo, removendo arquivos ._ sem a necessidade de explorar manualmente os diretórios. Um fator notável é a adaptação contínua de software para lidar com essa ‘lixeira’ digital. Vários aplicativos de sincronização, como o Dropbox, fazem uso dos ADS para armazenar metadados, demonstrando como diferentes plataformas tentam resolver problemas de maneira semelhante.

A discussão sobre sistemas de arquivos não estaria completa sem mencionar as diversas ferramentas e soluções para gerenciar essas especificidades. Nodes de configuração do Samba, como ‘veto files’, permitem que administradores de rede previnam a criação de arquivos .DS_Store em volumes de rede. É comum encontrar dicotomias parecidas em soluçoes Linux e BSD, onde dotfiles proliferam nos diretórios home e projetos de desenvolvimento, sendo .gitignore uma linha de defesa bem conhecida para manter a organização no desenvolvimento de software. A discussão sobre esse tema também extrapola ao considerar a experiência do usuário final.

Por fim, o conceito de ‘hidden files’ em sistemas Unix remete ao ponto inicial do uso do ponto (.) para arquivos de diretório, uma convenção que os ocultava do comando ls por padrão. Através das décadas, a Apple continuou a preservar seu compromisso com uma organização de sistema de arquivos holística enquanto lidava com suas próprias maneiras exclusivas de gerenciar metadados e dados. Embora a necessidade para os arquivos .DS_Store possa ser justificável do ponto de vista técnico, sua implementação e visibilidade ainda provocam debates acalorados sobre a melhor forma de gerenciar e esconder essas conveniências digitais indesejadas. A evidência sugere uma contínua evolução e iteração sobre como armazenamos e acessamos dados, e, pode-se dizer, com uma certeza quase nostálgica, que este é um problema que persistirá por algum tempo, evoluindo junto com nossos sistemas de arquivos.


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